A Taxa Referencial (TR) é um índice de correção utilizado em diversos produtos financeiros no Brasil, sendo fundamental em modalidades como a poupança, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e financiamentos imobiliários.
Neste artigo, vamos explorar a fundo o que é a TR, como ela é definida e calculada, qual é a sua situação atual, além de abordar sua influência sobre diferentes tipos de investimentos e financiamentos. Tudo para você entender de fato como ela pode impactar os seus investimentos.
Boa leitura!
O que é a Taxa Referencial (TR)?
A Taxa Referencial (TR) foi criada em fevereiro de 1991, como parte do pacote de medidas do Plano Collor II, em um período de alta inflação no Brasil. O objetivo principal da TR era atuar como um índice de correção monetária que ajudasse a controlar a inflação, ajustando o valor de contratos e investimentos.
A TR passou por muitas mudanças ao longo do tempo, tanto em termos de cálculo quanto em seu papel na economia. Durante os anos 1990 e início dos anos 2000, a TR tinha uma relevância maior, mas nos últimos anos seu impacto tem sido mais limitado, especialmente em investimentos.
Diferente de índices inflacionários como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ou o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), a TR não reflete diretamente o aumento de preços no consumo. Em vez disso, ela é baseada na taxa de juros média de determinados títulos bancários e em um redutor estabelecido pelo Banco Central do Brasil.
Vamos entender isso melhor.
Como é definida e calculada a TR?
O cálculo da Taxa Referencial é feito pelo Banco Central do Brasil com base em uma fórmula que utiliza a Taxa Básica Financeira (TBF), que por sua vez, é uma média ponderada das taxas de juros praticadas em operações de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de grandes instituições financeiras.
Em outras palavras, a TBF reflete o custo médio de captação de recursos das instituições financeiras por meio de CDBs, ou seja, as taxas de juros pagas por esses CDBs. A TR, então, é obtida a partir da TBF, com a aplicação de um redutor definido pelo Banco Central.
Após a obtenção da TBF, aplica-se um redutor que varia conforme a situação econômica do país, com o objetivo de amortecer o impacto da TR e evitar que ela cause pressões inflacionárias. Assim, a fórmula básica da TR é:
• TR = TBF – Redutor
Esse redutor é determinado pelo Banco Central, Ele é ajustado periodicamente com base em indicadores econômicos, as expectativas de inflação e o nível de atividade econômica.
Em períodos de inflação elevada ou de aquecimento da economia, por exemplo, o redutor tende a ser menor, aumentando o impacto da TR. Já em períodos de baixa inflação e desaceleração econômica, o redutor tende a ser maior, reduzindo o impacto da TR e até mesmo zerando-a.
Evolução da TR desde o Plano Real em 1994
Embora tenha surgido antes do Plano Real, foi com a estabilidade econômica promovida pela nova moeda em 1994 que a TR ganhou destaque e se consolidou como um importante índice para a economia brasileira.
No início do Plano Real, a TR era relativamente alta, refletindo as altas taxas de juros da época. À medida que a inflação foi controlada e a política monetária do Brasil se estabilizou, a TR começou a perder força, principalmente nos anos 2000.
A partir de 2012, com a queda mais acentuada da taxa básica de juros (Selic), a TR passou a ser cada vez menor, até chegar a zero em 2017. Embora zerada, ela continua sendo utilizada como referência em muitos contratos e investimentos, especialmente naqueles ligados à poupança e ao FGTS.
Como a TR impacta seus investimentos e financiamentos?
Apesar de estar zerada há alguns anos, a TR ainda desempenha um papel crucial em certos tipos de investimentos e financiamentos. Então vamos analisar como a TR impacta alguns dos principais produtos financeiros no Brasil.
Poupança
A primeira modalidade impactada pela TR é a mais popular entre os brasileiros, a famosa poupança. A TR tem influência direta sobre sua rentabilidade. O cálculo do rendimento da poupança depende do nível da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.
Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança é fixado em 0,5% ao mês + TR. Já quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano, a regra de cálculo muda, e o rendimento da poupança passa a ser 70% da Selic + TR.
No cenário atual, com a Selic acima de 8,5% e a TR zerada, o rendimento da poupança é equivalente é de 0,5% + a TR, ou, aproximadamente 6% ao ano. Isso explica por que os rendimentos da poupança têm sido historicamente baixos nos últimos anos e definitivamente pouco vantajosos.
Para você entender melhor, vamos ao exemplo de como funciona o cálculo do rendimento da poupança:
• Imagine um cenário onde a Selic está em 6% ao ano, o rendimento da poupança será 70% de 6%, ou seja, 4,2% ao ano.
• Agora imagine a Selic a 10% ao ano, o rendimento da poupança será de 6% ao ano. Isso quer dizer que com a TR zerada, o máximo que a poupança pode alcançar é um rendimento de 6% ao ano.
Com a TR zerada, o único fator que influencia a rentabilidade da poupança é a Selic.
FGTS
O saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também é corrigido pela TR, acrescida de uma taxa fixa de 3% ao ano. No entanto, como a TR está zerada, o rendimento total do FGTS fica limitado a esses 3% anuais, o que é inferior a outros índices de correção, como o IPCA por exemplo, que é o principal índice de inflação.
Essa correção limitada faz com que o FGTS seja uma das opções de menor rendimento no Brasil, o que tem gerado discussões sobre a necessidade de reformas no sistema. Alguns trabalhadores optam por utilizar o saque-aniversário para retirar parte do saldo do FGTS e aplicar em outras modalidades de investimento que ofereçam rentabilidades superiores.
Títulos de Capitalização
Os títulos de capitalização também utilizam a TR como índice de correção monetária. Esses produtos financeiros oferecem uma combinação de sorteios e acumulação de capital, permitindo que o consumidor concorra a prêmios e, ao final do prazo, resgate o valor total aplicado, corrigido pelo índice escolhido.
É importante ressaltar que, apesar de oferecerem a possibilidade de ganhos, os títulos de capitalização possuem custos associados, como taxas de administração e carregamento, que podem impactar a rentabilidade final do investimento.
É importante ainda levar em consideração que, com a TR zerada, a rentabilidade dos títulos de capitalização fica bastante limitada, o que diminui ainda mais a atratividade desse tipo de produto para quem busca retorno financeiro.
Renda Fixa
Embora a TR não seja o índice de referência mais comum em títulos públicos do Tesouro Direto, que predominantemente utilizam índices como o IPCA ou a taxa pré-fixada, ela pode ainda ser encontrada em alguns títulos de renda fixa, que são emitidos por bancos e instituições financeiras.
Esses títulos costumam ser menos atrativos em momentos em que a TR está zerada. Fazendo com que títulos indexados a outros índices se tornem mais interessantes, como indexados ao IPCA, que oferecem uma correção mais robusta e retornos mais elevados, principalmente para quem busca proteção contra a inflação.
Financiamentos Imobiliários
A TR tem um impacto direto em muitos financiamentos imobiliários, especialmente aqueles contratados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH). No caso desses financiamentos, a TR é utilizada para corrigir o saldo devedor do financiamento.
Com a TR zerada, o saldo devedor dos financiamentos imobiliários não sofre correção pela TR, o que beneficia os mutuários, que não precisam lidar com o aumento do saldo devedor ao longo do tempo. Isso torna os financiamentos imobiliários um pouco mais vantajosos em momentos como o atual, em que a TR está zerada.
Qual a relação entre a TR e os diferentes tipos de investimento?
Agora que entendemos o impacto da TR em diferentes tipos de investimentos e financiamentos, vamos fazer um rápido resumo para ficar ainda mais claro a relação entre a TR e cada um desses instrumentos financeiros.
TR e Poupança
Como mencionado anteriormente, a poupança é um dos investimentos mais afetados pela TR. Quando a TR está zerada, como é o caso atualmente, a rentabilidade da poupança fica exclusivamente dependente da taxa Selic.
No entanto, se a TR voltar a subir no futuro, seu impacto sobre a poupança pode aumentar. Isso ocorreria especialmente com a Selic acima de 8,5% ao ano, situação na qual a TR seria adicionada aos 0,5% ao mês que compõem o rendimento da poupança.
TR e FGTS
O FGTS é outro instrumento financeiro diretamente impactado pela TR. No entanto, como a TR está zerada, o saldo do FGTS tem sido corrigido apenas pelos 3% ao ano estabelecidos pela legislação. Em termos de comparação, esse rendimento é significativamente inferior a outros índices de correção, como o IPCA. (isso quer dizer que o FGTS rende menos que a inflação, tendo assim um retorno real negativo)
Com isso, muitas pessoas têm questionado a eficácia do FGTS como uma ferramenta de valorização do patrimônio, e reformas no sistema têm sido discutidas para permitir que os trabalhadores tenham acesso a rendimentos mais elevados.
TR e Títulos de Capitalização
Os títulos de capitalização, que utilizam a TR como índice de correção, também são impactados pela atual situação de juros baixos no Brasil. Com a TR zerada, a correção desses títulos é praticamente inexistente, tornando-os ainda menos atrativos para quem busca retorno financeiro significativo.
Títulos de capitalização já são, de forma geral, considerados produtos financeiros de baixa rentabilidade, e a ausência de correção pela TR contribui para reforçar essa percepção negativa.
Conclusão
Embora a TR esteja zerada atualmente, é importante saber o que é e como funciona, para estar sempre atento a possíveis mudanças no cenário econômico.
Se a TR voltar a subir algum dia, ela poderá impactar diretamente os rendimentos da poupança e de outros instrumentos financeiros que a utilizam como referência. Além de aumentar os custos de financiamentos imobiliários, já que o saldo devedor seria corrigido pela TR.
A Taxa Referencial (TR) ainda desempenha um papel importante em diversos produtos financeiros no Brasil, como a poupança, o FGTS, os títulos de capitalização e os financiamentos imobiliários.
Embora esteja zerada há vários anos, ela continua a ser utilizada como referência para a correção de valores, o que torna essencial que os investidores compreendam como ela funciona e como pode impactar suas finanças.