Convexidade nos Investimentos: Entenda o impacto em títulos de Renda Fixa e Opções

A convexidade nos investimentos é um conceito frequentemente subestimado, mas que possui um papel decisivo na análise de risco e retorno, especialmente quando falamos de títulos de renda fixa e operações com opções. Para quem investe com foco em segurança, previsibilidade e sensibilidade a taxas de juros, entender a convexidade é um passo fundamental para evoluir de um investidor tático para um estrategista de portfólio.

Muitos investidores conhecem bem a duration, que mede a sensibilidade do preço de um título frente a mudanças na taxa de juros. Porém, poucos se aprofundam na convexidade, que refina essa análise e permite compreender melhor os efeitos não lineares na variação de preços dos ativos.

Se você lida com tesouro direto, debêntures, CRIs, CRAs, fundos de renda fixa ou até mesmo derivativos, dominar esse conceito é crucial. A convexidade ajuda a proteger sua carteira em momentos de oscilação de juros e melhora sua capacidade de precificar ativos de maneira mais eficiente.

O que é Convexidade nos investimentos

Convexidade, no contexto financeiro, refere-se ao comportamento curvo da relação entre o preço de um título e a variação da taxa de juros. Enquanto a duration assume uma relação linear (ou seja, o preço do título sobe ou desce de forma proporcional à mudança nos juros), a convexidade considera que essa relação é, na verdade, não linear.

Isso significa que, à medida que os juros variam, os preços dos títulos de renda fixa não respondem de forma simétrica. Um título com maior convexidade sofre menos perdas quando os juros sobem e ganha mais quando os juros caem, em comparação com um título de menor convexidade, mesmo que ambos tenham a mesma duration.

Matematicamente, a convexidade é a segunda derivada da função preço em relação à taxa de juros, o que reforça seu papel como um complemento técnico à duration.

Em termos práticos: se você está comparando dois títulos com durations semelhantes, o que possui maior convexidade tende a ser mais estável e vantajoso em ambientes de volatilidade.

Convexidade em Títulos de Renda Fixa

O mercado de renda fixa é particularmente sensível à convexidade. Isso ocorre porque o valor presente dos fluxos de caixa dos títulos varia conforme o desconto aplicado, que por sua vez é afetado pelas taxas de juros vigentes.

Títulos com pagamentos mais espaçados ou mais longos no tempo apresentam naturalmente uma convexidade maior. Isso significa que eles são mais sensíveis a oscilações na taxa de juros, mas também oferecem um comportamento mais “amortecido” em movimentos abruptos de mercado.

Por outro lado, títulos com pagamentos frequentes ou vencimentos curtos têm convexidade menor, o que torna seu preço mais diretamente linear à variação de juros.

Essa diferença é fundamental na construção de portfólios de renda fixa, pois permite ao investidor:

  • Escolher papéis que se comportem melhor em cenários de queda de juros (onde a convexidade ajuda a amplificar os ganhos).
  • Reduzir o impacto negativo em ambientes de alta de juros, onde a convexidade positiva suaviza a queda do valor de mercado do título.

Convexidade e Duration: Entenda a Relação

A duration é, sem dúvida, um dos conceitos mais difundidos quando o assunto é renda fixa. Ela representa o tempo médio ponderado de recebimento dos fluxos de caixa de um título. Já a convexidade entra como um segundo nível de análise, ajustando os erros da duration em estimativas mais realistas de variação de preço.

Em outras palavras, a duration é a primeira derivada da função preço em relação aos juros, enquanto a convexidade é a segunda derivada. Isso significa que, quanto maior a convexidade de um ativo, mais fiel será a estimativa de variação de preço diante de oscilações na curva de juros.

Essa análise combinada é essencial para quem investe em estratégias com duration alongada (títulos longos, NTN-Bs, debêntures incentivadas) e precisa mensurar os riscos associados ao cenário macroeconômico.

Por exemplo, durante períodos de instabilidade monetária ou reprecificação rápida de expectativas (como mudanças na política monetária do Banco Central), papéis com alta convexidade são menos voláteis e oferecem melhor proteção ao investidor de longo prazo.

Convexidade em Opções e Derivativos

Embora a convexidade seja mais discutida no universo da renda fixa, ela também está presente no mercado de opções e derivativos, especialmente quando falamos de gamma.

O gamma é a medida da convexidade no preço das opções, ou seja, quanto o delta (sensibilidade da opção ao ativo-objeto) muda quando o ativo se movimenta. Um gamma elevado implica uma maior sensibilidade do preço da opção às oscilações do ativo subjacente, refletindo, portanto, uma convexidade maior.

Na prática, opções com alto gamma (e, por consequência, alta convexidade) são mais valiosas em mercados voláteis. Estratégias que se beneficiam disso incluem:

  • Compra de opções longas em períodos de alta incerteza.
  • Montagem de estruturas como straddles e strangles, que dependem da convexidade para lucrar com movimentos intensos.

Portanto, entender convexidade nas opções ajuda o investidor a escolher prazos, strikes e estruturas mais eficientes para diferentes cenários de mercado.

Convexidade e a Análise de Risco de Títulos

A convexidade também é uma importante ferramenta na análise de risco de portfólios de renda fixa. Ela permite que gestores, analistas e investidores identifiquem como os ativos irão se comportar frente a diferentes cenários de taxa de juros e tomem decisões mais eficientes.

Por exemplo, em um ambiente de queda de juros, ativos com maior convexidade se valorizam mais do que o previsto pela duration. Já em momentos de alta de juros, eles caem menos, o que torna a convexidade positiva um amortecedor natural contra perdas.

Além disso, em carteiras de fundos de renda fixa ativos, a gestão da convexidade permite adequar o risco conforme a expectativa de política monetária. Fundos que apostam na queda de juros costumam aumentar a convexidade do portfólio para potencializar ganhos, enquanto fundos mais conservadores reduzem essa exposição para minimizar volatilidade.

Como utilizar a convexidade na gestão de carteiras

A aplicação prática do conceito de convexidade na gestão de portfólios vai além da teoria. Investidores e gestores que utilizam esse conhecimento de forma estratégica conseguem otimizar o risco-retorno de suas carteiras, principalmente em mercados com grande volatilidade de juros, como o brasileiro.

Na prática, a convexidade pode ser usada para balancear o portfólio em diferentes fases do ciclo econômico. Por exemplo, em um cenário de queda projetada da taxa Selic, faz sentido aumentar a exposição a ativos com maior duration e convexidade, pois esses tendem a se valorizar mais com a redução dos juros.

Por outro lado, quando o mercado projeta uma alta nas taxas, uma carteira com baixa convexidade (composta por títulos de vencimento curto ou com pagamentos frequentes) tende a ser mais resiliente.

Esse uso é especialmente relevante em fundos de renda fixa ativos, estratégias de Liability Driven Investment (LDI) ou até mesmo em fundos de pensão, onde a combinação entre duration e convexidade ajuda a preservar capital e manter compromissos de longo prazo.

Além disso, a convexidade é útil para ajustar a estrutura temporal da carteira com base no objetivo de cada investidor. Alguém que busca proteção contra quedas abruptas de juros pode deliberadamente montar uma alocação mais convexa, ainda que isso signifique abrir mão de alguma rentabilidade imediata.

Convexidade Negativa

Embora a maioria dos títulos de renda fixa possuam convexidade positiva, existe uma situação em que essa lógica se inverte, criando o que chamamos de convexidade negativa. Esse fenômeno ocorre principalmente em ativos com cláusulas de resgate antecipado, ou seja, títulos que podem ser recomprados antes do vencimento pelo emissor.

Quando um emissor tem a opção de liquidar o título antecipadamente (normalmente quando os juros caem e ele pode se financiar mais barato), o investidor perde a valorização potencial que teria com a queda dos juros. Assim, ao invés de o preço do ativo continuar subindo com a queda da taxa, ele estabiliza ou até cai, gerando perdas não previstas na análise tradicional de convexidade.

Essa convexidade negativa pode afetar:

  • Debêntures ou CRIs com cláusulas de resgate antecipado
  • Empréstimos estruturados com opcionalidades para o tomador
  • Alguns títulos públicos no mercado americano (como mortgage-backed securities)

Para o investidor, é fundamental identificar esses instrumentos e entender como a convexidade negativa pode afetar o desempenho da carteira. Ignorar esse fator pode levar a uma falsa sensação de segurança, principalmente em ambientes de queda de juros.

Exemplos práticos de Convexidade em diferentes ativos

Para ilustrar a importância da convexidade, vamos observar três tipos de ativos e como esse conceito se manifesta em cada um deles:

1. Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045

Esse é um dos títulos públicos mais sensíveis a variações na taxa de juros de longo prazo. Sua convexidade é elevada, pois ele possui um vencimento distante e fluxos de caixa longos. Em períodos de queda de juros reais, ele se valoriza de forma acentuada, o que o torna um ativo estratégico para cenários de afrouxamento monetário.

2. Debênture incentivada com pagamento semestral

Embora também tenha vencimento longo, a presença de cupons semestrais reduz sua convexidade em relação ao Tesouro IPCA+. Isso gera um comportamento mais moderado nas oscilações de preço, sendo uma opção para investidores que buscam renda e algum grau de proteção.

3. Fundo DI com duration curta

Fundos atrelados à Selic ou ao CDI apresentam convexidade muito próxima de zero. Eles seguem praticamente de forma linear o movimento das taxas, com mínima volatilidade. São ideais para proteção de caixa, mas oferecem pouco ganho em cenários de mudança abrupta na curva de juros.

Esses exemplos mostram como a escolha de ativos com diferentes convexidades pode equilibrar o portfólio e prepará-lo para diversos cenários.

Convexidade em ambiente de juros voláteis no Brasil

A economia brasileira é historicamente marcada por ciclos de alta volatilidade nas taxas de juros, impulsionados por fatores como mudanças de governo, choques inflacionários e incertezas fiscais. Nesse contexto, a convexidade assume um papel ainda mais estratégico.

Durante períodos de alta incerteza, a curva de juros tende a oscilar com frequência, e os ativos mais convexos reagem de forma não linear. Isso cria oportunidades para investidores atentos, capazes de se posicionar de forma antecipada à mudança do ciclo.

Por exemplo, no ciclo iniciado em 2021, a taxa Selic saiu de 2% para mais de 13% ao ano, impactando diretamente o valor de mercado dos títulos de longo prazo. Fundos que não consideraram a convexidade viram perdas significativas. Por outro lado, quem compreendeu esse movimento e ajustou a carteira com ativos de convexidade adequada, conseguiu mitigar perdas e até capturar valorização quando o mercado reprecificou expectativas.

Portanto, no Brasil, entender convexidade não é apenas uma sofisticação analítica, mas sim uma ferramenta essencial de sobrevivência e performance no mercado.

Relevância para investidores iniciantes e avançados

Embora o termo “convexidade” possa parecer técnico à primeira vista, ele deve fazer parte do vocabulário de qualquer investidor sério. Seja você um iniciante montando sua primeira carteira de renda fixa, ou um investidor avançado com posições relevantes em ativos de longo prazo, entender como a convexidade impacta seus resultados é crucial.

Para o investidor iniciante, a dica é começar entendendo a diferença entre duration e convexidade e, na sequência, observar como os diferentes títulos respondem às mudanças na Selic.

Já o investidor avançado pode utilizar a convexidade para compor estratégias de alocação tática, aproveitando ciclos econômicos, antecipando movimentos do Comitê de Política Monetária (Copom) e até mesmo simulando cenários de risco com mais precisão.

Além disso, o uso de ferramentas como curvas de juros futuras (DI Futuro), cálculo de duration modificada e plataformas de análise de convexidade pode aprimorar ainda mais a capacidade de tomada de decisão.

Conclusão

A convexidade nos investimentos é, muitas vezes, ignorada por quem está começando e subestimada por quem foca apenas no retorno imediato. No entanto, como vimos ao longo deste artigo, ela é uma variável decisiva na precificação de títulos, na proteção da carteira e na gestão do risco frente às oscilações de juros.

Mais do que um conceito técnico, a convexidade representa uma visão sofisticada e estratégica sobre como os ativos se comportam no tempo. Investidores que dominam essa métrica conseguem antever riscos ocultos, proteger o patrimônio e capturar ganhos que passam despercebidos pela maioria.

Seja na renda fixa tradicional, nos fundos, nas estruturas com derivativos ou mesmo em investimentos internacionais, a convexidade deve estar presente na análise fundamentalista e na modelagem de cenários.

Portanto, se o seu objetivo é construir uma carteira sólida, resiliente e eficiente, a convexidade não pode ficar de fora da sua equação de decisão.

Leia também: Correlação de Ativos: O que é, como funciona e por que é essencial para investidores inteligentes

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Caio Maillis

Gestor Financeiro, graduando em Ciências Econômicas e
Pós-graduando em Finanças, Investimentos e Banking.

Caio Maillis

Gestor Financeiro, graduando em
Ciências Econômicas e
Pós-graduando em Finanças,
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