Em momentos de intensa volatilidade, quando o pânico toma conta dos mercados e os investidores se veem diante de quedas abruptas nos preços dos ativos, um mecanismo estratégico entra em cena para conter o caos: o circuit breaker.
Embora muitos investidores tenham tomado conhecimento dessa ferramenta apenas em episódios recentes de estresse financeiro, ela é parte integrante da estrutura de proteção do mercado de capitais.
Neste artigo, vamos abordar em profundidade o que é o circuit breaker, como ele funciona na prática, quando costuma ser acionado e quais são os principais episódios históricos em que esse mecanismo entrou em ação na Bolsa de Valores brasileira.
Com isso, o investidor poderá compreender a importância desse sistema para preservar a integridade do ambiente de negociação e evitar decisões precipitadas em momentos de crise.
Boa leitura!
O que é Circuit Breaker
O circuit breaker é um mecanismo de segurança utilizado pelas bolsas de valores ao redor do mundo para proteger o mercado em momentos de alta volatilidade. Na prática, ele funciona como uma “trava de emergência” que interrompe temporariamente as negociações quando há uma queda acentuada nos preços dos ativos, especialmente do índice de referência da bolsa, que no Brasil é o Ibovespa.
A sua principal função é conter o efeito dominó provocado por vendas em massa, impulsionadas pelo medo ou por eventos inesperados. A paralisação permite que investidores e analistas processem melhor as informações, reavaliem estratégias e tomem decisões com mais racionalidade. Isso ajuda a evitar desvalorizações ainda mais drásticas, que poderiam desorganizar completamente o mercado.
Como funciona o Circuit Breaker
O funcionamento do circuit breaker é baseado em níveis de oscilação do Ibovespa, calculados com base na variação percentual em relação ao fechamento do pregão anterior.
Quando esses limites são atingidos, o sistema é acionado automaticamente, seguindo as regras abaixo:
Estágio I – Queda de 10%
Quando o Ibovespa registra uma desvalorização de 10%, o pregão é interrompido por 30 minutos.
Estágio II – Queda de 15%
Caso, após a retomada, a queda atinja 15%, as negociações são novamente paralisadas, desta vez por 1 hora.
Estágio III – Queda de 20%
Se, mesmo após os dois estágios anteriores, ainda assim o índice cair 20% ou mais, a interrupção pode durar por tempo indeterminado, a critério da própria B3 (Bolsa de Valores do Brasil), que informará o mercado sobre os próximos passos.
É importante destacar que o circuit breaker não pode ser ativado nos últimos 30 minutos da sessão. Se o mecanismo for acionado na última hora do pregão, o horário de encerramento pode ser prorrogado por até 30 minutos.
A importância do Circuit Breaker
Como você já pode perceber, o objetivo do circuit breaker é preservar a integridade do mercado.
O que acontece é que durante crises, muitos investidores agem por impulso, vendendo ativos em pânico, e esse comportamento pode provocar quedas ainda mais acentuadas e gerar um efeito manada com consequências desastrosas.
Ao interromper temporariamente as negociações, o circuit breaker proporciona um momento de pausa para análise e reflexão, ajuda a reequilibrar as ordens de compra e venda, reduz o risco de perdas acentuadas por decisões precipitadas e reforça a confiança dos investidores na segurança do sistema financeiro.
Qual a diferença entre Circuit Breaker e Leilão de Ações
Outro mecanismo semelhante utilizado para conter oscilações excessivas é o leilão de ações. Porém, existem diferenças importantes entre eles:
Amplitude de Atuação: Enquanto o circuit breaker paralisa todas as negociações na Bolsa, o leilão afeta apenas ações específicas que apresentam volatilidade extrema.
Critério de Acionamento: O leilão é ativado quando o preço de uma ação varia mais de 10% em relação ao fechamento anterior. O circuit breaker depende da oscilação do índice Ibovespa.
Tempo de Duração: O leilão dura, em média, 5 minutos (prorrogáveis). Já o circuit breaker pode durar de 30 minutos até tempo indeterminado, dependendo do estágio atingido.
Ambos os mecanismos são complementares e têm o objetivo de garantir um ambiente de negociação mais estável e seguro.
Histórico de acionamentos do Circuit Breaker na bolsa brasileira
Embora o circuit breaker seja um mecanismo de uso excepcional, ele já foi acionado diversas vezes na história recente da B3. A seguir, destacamos os principais episódios:
2020 – Pandemia da COVID-19
Durante o mês de março de 2020, o Ibovespa sofreu quedas sucessivas devido à combinação da pandemia de coronavírus com a guerra de preços do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia. Foram seis acionamentos do circuit breaker, nos dias 9, 11, 12 (duas vezes), 16 e 18 de março. Em alguns casos, as quedas superaram 12% no mesmo dia.
2017 – “Joesley Day”
No dia 18 de maio, a divulgação de um áudio comprometedor envolvendo o então presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista gerou pânico nos mercados. O Ibovespa caiu 10% e o circuit breaker foi acionado.
2008 – Crise do Subprime
A crise financeira originada nos EUA afetou o mundo inteiro. No Brasil, o circuit breaker foi acionado por seis vezes entre setembro e outubro de 2008, sendo o período com maior número de interrupções desde a criação do mecanismo.
1999 – Crise Cambial no Brasil
Nos dias 13 e 14 de janeiro de 1999, diante da transição para o câmbio flutuante, o real sofreu forte desvalorização, levando a quedas expressivas no Ibovespa. O circuit breaker foi acionado em ambas as datas.
1998 – Crise Russa
Entre agosto e setembro de 1998, o circuit breaker foi ativado em cinco momentos distintos, refletindo o colapso da economia russa.
1997 – Crise Asiática
No final de outubro de 1997, a crise financeira que atingiu diversos países asiáticos impactou fortemente a Bolsa brasileira. O circuit breaker foi acionado três vezes naquele período.
Pode acontecer um novo Circuit Breaker?
Sim, o circuit breaker pode ser acionado novamente sempre que ocorrer uma queda brusca e inesperada nos mercados. No entanto, por ser um mecanismo de uso emergencial, ele só entra em cena em momentos excepcionais.
Eventos geopolíticos, crises sanitárias, colapsos econômicos ou escândalos políticos podem gerar o nível de estresse necessário para disparar o mecanismo.
O que fazer quando o Circuit Breaker é acionado?
Para o investidor, é essencial manter a calma e evitar tomar decisões precipitadas com base no medo. Em vez disso:
• Reavalie seus investimentos e o motivo de cada posição;
• Considere reforçar a diversificação da carteira;
• Aproveite a pausa para buscar informações de fontes confiáveis;
• Mantenha o foco em objetivos de longo prazo.
O mercado tende a se recuperar com o tempo, e quem age com racionalidade nesses momentos pode até encontrar boas oportunidades.
Conclusão
O circuit breaker é um instrumento indispensável para a proteção do mercado financeiro em situações de pânico. Embora seja um evento raro, sua atuação é crucial para garantir um ambiente de negociação mais equilibrado e seguro para todos os participantes.
Dessa forma, conhecer seu funcionamento e sua lógica é parte fundamental da educação financeira de qualquer investidor que atua na renda variável.
Aléms disso, manter-se informado, agir com cautela e entender os mecanismos que regulam o mercado são atitudes que ajudam não apenas a evitar perdas, mas também a identificar oportunidades em meio ao caos.