O mercado financeiro oferece uma variedade de possibilidades para atender diferentes tipos de investidores, com diferentes perfis, que variam desde os mais conservadores até os mais agressivos. Os derivativos são uma das modalidades de investimento dentro dessas possibilidades.
Apesar de um pouco complexos, podem ser uma excelente escolha tanto para quem deseja proteger investimentos quanto para quem quer oportunidades de lucro em situações de incerteza no mercado.
Neste artigo, você vai descobrir o que são derivativos, como eles funcionam, rentabilidade, risco e liquidez, os tipos de derivativos mais comuns, contratos futuros, contratos a termo, opções e swaps, diferentes formas de utilizá-los, vantagens e desvantagem, além de como investir nessa modalidade.
Boa leitura!
O que são Derivativos?
Os derivativos são instrumentos financeiros cujo valor é derivado de ativos subjacentes, que podem ser ações, commodities (ouro, soja, petróleo, entre outros), moedas ou índices econômicos.
Em outras palavras, o preço de um derivativo depende exclusivamente do desempenho de seu ativo subjacente. O que significa que quando você investe em um derivativo, está na prática, negociando um contrato que deriva de outro ativo.
Para deixar mais claro, imagine que o leite é um ativo subjacente. A partir do leite podemos produzir vários outros produtos, como o iogurte, a manteiga e o queijo, que são os derivados do leite.
Se por alguma variável, como um aumento no custo de produção, ou uma seca prolongada, que diminui a oferta do produto, ou mesmo por uma crise econômica, o preço do leite aumentar, o que acontece com o preço do queijo?
Os derivativos, apesar de mais complexos do que o leite e o queijo, seguem a mesma lógica. São produtos derivados de um ativo subjacente, que podem sofrer mudanças de preço de acordo com uma série de variáveis.
Como funcionam os Derivativos?
Os derivativos funcionam por meio de contratos de duas partes, onde uma se compromete a vender e a outra a comprar um ativo, por um preço já determinado e um prazo preestabelecido.
Esses contratos podem ter diferentes finalidades, que vão desde a proteção contra as oscilações de preço do mercado, até a especulação de valorização ou não de um ativo. Vamos nos aprofundar mais nesse assunto no decorrer do artigo.
Rentabilidade
Dependendo da estratégia adotada, o retorno que os derivativos oferecem podem ser bastante atrativos. A especulação, por exemplo, é conhecida por oferecer grandes oportunidades de lucro, principalmente em cenários de alta volatilidade no mercado, porém esse potencial de retorno está diretamente ligado ao risco que se assume. Quanto mais for o risco, maior poderá ser o retorno, ou a perda.
É sempre muito importante ressaltar que esse retorno não é garantido como em um investimento tradicional de renda fixa, ou mesmo com boas ações na renda variável. Quando falamos em especulação, por mais que envolvam análises, estamos falando em algo que pode sim trazer grandes ganhos, mas que se estiver equivocada resulta em perdas da mesma proporção.
Risco
O risco dependerá ainda mais de qual a finalidade dos derivativos na estratégia adotada. Se forem utilizados em uma estratégica de especulação, como mencionado acima, podem ser considerados ativos de alto risco.
Isso acontece por causa da exposição ao ativo subjacente, que pode não se comportar como o esperado, o que chamamos de risco de mercado. Como a especulação é uma tentativa de prever o que vai acontecer no futuro, pode resultar em perdas significativas.
Além disso muitos contratos permitem alavancagem, ou seja, abrir uma posição maior do que o capital que se tem para investir. Aqui a matemática é simples, você investe mais dinheiro do que tem, se ganhar, ganha muito, se perder, perde tudo e ainda fica devendo. Por isso o alto risco.
Por outro lado, quando utilizados os derivativos em uma estratégia de hedge, o risco é mais controlado, justamente porque essa estratégia tem como objetivo reduzir a exposição as oscilações de preços do mercado.
Liquidez
A liquidez dos derivativos varia de acordo com o tipo de contrato e o ativo subjacente. Os derivativos padronizados, como contratos futuros e opções sobre ações, são negociados em bolsas de valores, o que faz com que, geralmente, apresentem maior liquidez.
Já os derivativos personalizados, como contratos a termo e swaps, são negociados no mercado de balcão (OTC), e apesar de ser algo bom oferecerem maior flexibilidade de negociação para atenderem às necessidades específicas dos investidores, isso é algo que pode limitar a liquidez.
Em essência a alta liquidez significa a possibilidade de comprar ou vender um ativo rapidamente, aproveitando as oportunidades com preços próximos aos de mercado, e isso é especialmente vantajoso em momentos de alta volatilidade.
Por isso quanto mais complexo ou quanto mais características específicas um contrato apresentar, menor tende a ser a sua liquidez.
Para que servem os Derivativos
Costumo dizer que mais importante do que saber o que é, é entender para que serve. Mais abaixo você vai descobrir de forma mais detalhada os tipos de derivativos, mas antes é fundamental que entenda como eles são utilizados no mercado de capitais.
Os derivativos possuem três finalidades principais, são elas:
Hedge
Hedge significa cobertura em português, e exatamente para isso que essa estratégia é utilizada. É uma estratégia de proteção que tem como objetivo minimizar o risco das variações de um ativo subjacente.
Para ficar mais claro o entendimento de como essa estratégia é utilizada, imagine o seguinte:
Você é um agricultor que pretende colher uma grande quantidade de sacas de milho daqui a 6 meses. Porém poder ser que ao final desse período de 6 meses o preço da saca esteja mais baixo do que está atualmente, logo, isso quer dizer que você irá receber menos.
Para garantir que não tenha perdas futuras, você pode fazer o uso de contratos futuros que irão “travar” o preço atual da saca de milho. O que irá te proteger de uma oscilação desfavorável no futuro.
Especulação
A especulação é o lado oposto da estratégia de hedge. Ou seja, ao invés de proteção, aqui o objetivo é uma busca ativa de lucros, tentando antecipar os movimentos de preço do mercado.
Por exemplo, imagine que um investidor, depois de fazer análises, acredita que o preço de determinada ação irá subir. Ele então pode comprar uma opção de compra (call), o que dará a ele o direito de comprar essa ação a um preço predeterminado.
Se o preço da ação realmente subir, ele exerce o direito da opção e lucra com a diferença de preços.
A especulação pode trazer grandes lucros, mas também está associada a grandes riscos. Lembre-se sempre, quanto maior a oportunidade de ganhos, maiores são os riscos e consequentemente, em caso de equívoco, maiores são as perdas.
Arbitragem
A arbitragem é uma estratégia que envolve aproveitar as diferenças de preço em mercados diferentes, obtendo lucros sem risco, ou com risco muito baixo. Nada mais é do que comprar um ativo em um mercado onde ele está subvalorizado e depois vendê-lo em outro mercado, onde o preço é mais alto.
Por exemplo, imagine que um investidor identificou uma diferença de preço entre o mercado à vista e o mercado futuro de um ativo, ele pode comprar no mercado mais barato e vender no mais caro, lucrando com a diferença.
Tipos de Derivativos
Existem vários tipos de derivativos disponíveis no mercado, e os mais comuns são:
Os contratos futuros são acordos entre duas partes, de compra e venda de um ativo subjacente em data futura a um preço preestabelecido. São contratos padronizados, o que quer dizer que, características e especificações do ativo subjacente, como quantidade, data de vencimento, tipo de liquidação, entre outros, são pré-definidas. E são negociados em bolsas de valores, como a B3.
Ao negociar contratos futuros o investidor deve depositar uma margem de garantia, que serve para garantir o cumprimento do contrato, e essa margem pode variar de 3% a 16%, a depender do contrato.
Podem ser utilizados para hedge, especulação ou arbitragem, dependendo muito qual a finalidade na estratégia de cada investidor. Vale lembrar que os contratos futuros podem proporcionar lucros significativos, mas também perdas na mesma proporção.
Para reforçar a explicação, aqui vai mais um exemplo do uso:
Um investidor que acredita na alta do preço do petróleo, pode comprar um contrato futuro de petróleo. Se o preço subir, ele poderá vender o contrato por um valor maior e lucrar com a operação.
Bem parecidos com os contratos futuros, porém são negociados no mercado de balcão (OTC), o que significa que não são padronizados, e sim personalizados de acordo com as necessidades das partes envolvidas.
Por serem mais flexíveis e negociados de forma privada, costumam ter menor liquidez do que os contratos futuros, além de maior risco de crédito, uma vez que dependem da capacidade de cumprimento das obrigações pelas partes envolvidas.
Um exemplo do uso pode ser o seguinte:
Uma empresa pode negociar um contrato a termo para comprar dólares no futuro, mas fixados no preço de hoje. O que irá protegê-la de uma possível alta da moeda.
Opções são contratos que dão ao comprador o direito, porém não a obrigação, de comprar ou vender um ativo subjacente a um preço preestabelecido, que é conhecido como preço de exercício ou strike, até uma data específica.
Existem dois tipos principais de opções:
• Opções de compra (call): Dá ao comprador o direito de comprar o ativo subjacente.
• Opções de venda (put): Dá ao comprador o direito de vender o ativo subjacente.
Preste atenção agora para entender qual o risco de investir em opções:
Quando um investidor adquiri a opção ele paga um prêmio ao vendedor da opção, esse prêmio nada mais é do que o valor pago para ter o direito da opção. Quando não exerce esse direito e o prazo expira, o investidor perde o valor pago.
O valor da opção irá depender de vários fatores, como o preço do ativo subjacente, o tempo até o vencimento e a volatilidade do mercado.
Os swaps são acordos entre duas partes para trocar fluxos de caixa, o que oferece flexibilidade e proteção contra as variáveis do mercado. No entanto ainda possuem riscos, como o risco de crédito, onde uma das partes não cumpre com as obrigações prometidas, e a complexidade dos contratos.
Para deixar mais claro, podemos pegar o exemplo de uma empresa com empréstimos a juros variáveis, essa empresa pode firmar um contrato de swap para trocar a taxa variável por uma fixa, se protegendo dos aumentos inesperados na taxa de juros.
Ou mesmo uma empresa exportadora que precise pagar seus fornecedores em dólares. Essa empresa pode firmar um contrato de swap de moedas, trocando os pagamentos em reais por dólares, a uma taxa fixa. O que a protegerá do risco cambial.
Vantagens dos Derivativos
Assim como qualquer outro investimento no mercado financeiro, os derivativos também possuem vantagens e desvantagens que os investidores devem considerar antes de decidir utilizá-los na estratégia. Algumas dessas vantagens são:
• Proteção contra riscos: Derivativos são muito utilizados para proteger empresas e investidores contra movimentos de mercado que sejam adversos a suas estratégias.
• Oportunidade de altos lucros: Para os especuladores, os derivativos oferecem oportunidades de ganhos rápidos, especialmente em mercados muito voláteis.
• Flexibilidade: Os derivativos conseguem ser ajustados para atender as diferentes estratégias de investimento, como as já citadas aqui, hedge, especulação e arbitragem.
Desvantagens dos Derivativos
• Alto risco: Principalmente na especulação, e mais ainda quando o investidor utiliza da alavancagem, uma estratégia que pode multiplicar rapidamente os ganhos, mas também pode levar a perdas tão grandes quanto.
• Complexidade: O entendimento e a operação dos derivativos podem ser desafiadores, por isso exigem um conhecimento técnico avançado para serem utilizados de forma eficaz.
Como investir em Derivativos
Investir em derivativos exige conhecimento, preparo e uma plataforma que permita acesso ao mercado de derivativos. Algumas dicas para isso, são:
Conheça seu perfil de investidor
Antes de investir em qualquer classe de ativos, principalmente nos derivativos, é fundamental conhecer bem o seu perfil de investidor. Por si só, saber qual é o seu perfil e entender quais os melhores investimentos que se adequam a ele, já evita com que você perca dinheiro.
Os derivativos não são recomendados para investidores conservadores ou que não toleram grandes variações no valor de seus investimentos. Para entender melhor a importância dessa dica:
imagine que um investidor conservador, sem ter conhecimento de que é conservador, investe em algum tipo de derivativo. Porém, a experiência nos diz, que um investidor conservador possui alto grau de aversão ao risco, o que fará com que no momento da primeira oscilação negativa, ele fique apavorado.
Nesse cenário as chances desse investidor perder dinheiro é muito grande.
Defina sua estratégia
Essa dica vai ao encontro da anterior, justamente porque quando você tem um conhecimento mais profundo de qual tipo de investidor você é, sabe quais as melhores estratégias adotar para seus investimentos.
Em qualquer investimento, é muito importante definir qual a sua estratégia com aquele ativo, para qual finalidade você irá utilizá-lo, com os derivativos não é diferente. Por isso, antes de investir, decida se você quer usar os derivativos para hedge, para especulação ou arbitragem.
Entenda o mercado
Investir em derivativos exige muito conhecimento. Por isso, estude o funcionamento dos contratos, acompanhe o mercado e procure entender quais são as variáveis que influenciam o preço dos ativos subjacentes.
Não se esqueça que o sucesso com derivativos depende também do acompanhamento constante do mercado.
Escolha uma corretora
Para investir em derivativos, você vai precisar de uma conta em uma corretora de valores. As corretoras oferecem plataformas de negociação que permitem o acesso ao mercado de derivativos.
Escolha bem uma corretora, de preferência aquela que mais se adequa ao seu nível de conhecimento e fase como investidor. Não adianta escolher uma corretora com um home broker complexo, se você está iniciando, por exemplo.
Busque uma corretora confiável e que ofereça o suporte adequado para suas necessidades.
Conclusão
Os derivativos são instrumentos financeiros utilizados tanto para proteção quanto para especulação. Embora possam oferecer oportunidades de lucro significativo, também trazem riscos elevados, especialmente quando utilizados sem o devido conhecimento.
Devido à sua complexidade, é essencial que investidores tenham um bom entendimento do mercado antes de começar a investir. Estudar bastante e contar com uma boa estratégia são fatores determinantes para obter sucesso ou não com esse tipo de produto.